Guilherme era um pacato
funcionário de uma grande empresa multinacional. Trabalhava há quatro anos na mesma área. Era
casado, possuía casa própria, projetos de construir uma casa maior e tinha
planos de ter filhos em breve. Enfim, sua rotina era estável e bem definida.
Mas nem sempre foi assim.
Acostumado a grandes mudanças,
morou em dez cidades diferentes sendo três delas em outros países. Saiu cedo de
casa para estudar na Universidade. Os encontros e as despedidas eram constantes
na sua vida. Atualmente se lembrava desse passado distante com alegria enquanto
aproveitava a previsibilidade que a sua rotina lhe trazia.
Entretanto, por um golpe do
destino, se encontrava novamente nas águas revoltas dos mares da mudança.
Talvez a vida quisesse lembra-lo de que “só a mudança é permanente”.
Apesar da sua estabilidade, ainda
transmitia para as pessoas, mesmo que inconscientemente, um discurso aberto à
mudança e carregava estampado na sua imagem, por meio das suas historias, o
perfil de alguém disposto a empreender novos desafios. Por isso, foi escalado
para trabalhar em um projeto ambicioso em outra área com duração de mais de um ano.
Fez um bom trabalho, muitos
contatos, acumulou uma experiência extraordinária nos campos prático e teórico,
aumentou sua capacidade de resiliência e de lidar com grandes
responsabilidades. Como consequência foi convidado para uma vaga nessa nova
área.
Alegrou-se no início, pois seria
uma oportunidade de mudar e crescer na carreira, visto que não via mais condições
de progredir onde estava. Motivava-lhe também a possibilidade de liberar espaço
para que seus companheiros de trabalho mais novos avançassem nas suas carreiras
com a sua saída. É importante manter pessoas experientes. São os guardiões dos históricos
dos erros e dos acertos. Com isso os mais novos não perdem tempo reinventar a
roda e a empresa mantém sua excelência. Porém, deve haver também espaço para a
rotatividade. Ela motiva as pessoas criando uma condição para o progresso e
melhoria das suas condições atuais.
Finalmente, mais um item se
somava aos fatores positivos da vaga, lhe permitiria mudar de atividade sem
mudar de empresa. Ele leu nessas revistas especializadas em carreira que é ruim
para a imagem do profissional ficar no mesmo emprego por mais de 5 anos. Passa
a impressão de acomodação. Porém, para quem quer construir uma carreira sólida e
não quer pular de galho em galho, mudar de setor dentro da mesma empresa é
suficiente para afastar a imagem de acomodação.
O que Guilherme não contava era que
a vaga seria para outra cidade. A alguns quilômetros de distância de onde
morava com sua esposa e de onde tinha planos de construir raízes. Recusou e
tentou voltar para sua antiga área. Porém como em um xeque-mate da vida real,
ela foi tomada por uma crise sem precedentes.
Não havia mais espaço para ele lá. Seu antigo chefe lhe aconselhou a
aceitar a nova vaga.
A partir de agora estará então de
volta ao circuito, estrada, rodoviária, encontros e despedidas que ele tanto
conhecia. Mas ele já não é mais o mesmo. A forma como atuará nesse ambiente
será outra. Procurará um equilibro entre a adrenalina e a necessidade da
mudança e a caretice e a escolha da estabilidade.