sábado, 23 de maio de 2015

"Hoje eu sei só a mudança é permanente"


Guilherme era um pacato funcionário de uma grande empresa multinacional.  Trabalhava há quatro anos na mesma área. Era casado, possuía casa própria, projetos de construir uma casa maior e tinha planos de ter filhos em breve. Enfim, sua rotina era estável e bem definida. Mas nem sempre foi assim. 

Acostumado a grandes mudanças, morou em dez cidades diferentes sendo três delas em outros países. Saiu cedo de casa para estudar na Universidade. Os encontros e as despedidas eram constantes na sua vida. Atualmente se lembrava desse passado distante com alegria enquanto aproveitava a previsibilidade que a sua rotina lhe trazia.

Entretanto, por um golpe do destino, se encontrava novamente nas águas revoltas dos mares da mudança. Talvez a vida quisesse lembra-lo de que “só a mudança é permanente”.

Apesar da sua estabilidade, ainda transmitia para as pessoas, mesmo que inconscientemente, um discurso aberto à mudança e carregava estampado na sua imagem, por meio das suas historias, o perfil de alguém disposto a empreender novos desafios. Por isso, foi escalado para trabalhar em um projeto ambicioso em outra área com duração de mais de um ano.

Fez um bom trabalho, muitos contatos, acumulou uma experiência extraordinária nos campos prático e teórico, aumentou sua capacidade de resiliência e de lidar com grandes responsabilidades. Como consequência foi convidado para uma vaga nessa nova área.

Alegrou-se no início, pois seria uma oportunidade de mudar e crescer na carreira, visto que não via mais condições de progredir onde estava. Motivava-lhe também a possibilidade de liberar espaço para que seus companheiros de trabalho mais novos avançassem nas suas carreiras com a sua saída. É importante manter pessoas experientes. São os guardiões dos históricos dos erros e dos acertos. Com isso os mais novos não perdem tempo reinventar a roda e a empresa mantém sua excelência. Porém, deve haver também espaço para a rotatividade. Ela motiva as pessoas criando uma condição para o progresso e melhoria das suas condições atuais.

Finalmente, mais um item se somava aos fatores positivos da vaga, lhe permitiria mudar de atividade sem mudar de empresa. Ele leu nessas revistas especializadas em carreira que é ruim para a imagem do profissional ficar no mesmo emprego por mais de 5 anos. Passa a impressão de acomodação. Porém, para quem quer construir uma carreira sólida e não quer pular de galho em galho, mudar de setor dentro da mesma empresa é suficiente para afastar a imagem de acomodação.
O que Guilherme não contava era que a vaga seria para outra cidade. A alguns quilômetros de distância de onde morava com sua esposa e de onde tinha planos de construir raízes. Recusou e tentou voltar para sua antiga área. Porém como em um xeque-mate da vida real, ela foi tomada por uma crise sem precedentes.  Não havia mais espaço para ele lá. Seu antigo chefe lhe aconselhou a aceitar a nova vaga.


A partir de agora estará então de volta ao circuito, estrada, rodoviária, encontros e despedidas que ele tanto conhecia. Mas ele já não é mais o mesmo. A forma como atuará nesse ambiente será outra. Procurará um equilibro entre a adrenalina e a necessidade da mudança e a caretice e a escolha da estabilidade.