Nas boas empresas a segurança do trabalho é tratada com seriedade. Nas multinacionais se um acidente acontece em uma unidade da China por exemplo, ele é repercutido
negativamente em todas as outras unidades. Podendo até mesmo impactar o valor financeiro de alguns benefícios pagos aos funcionários. Nelas existe uma cultura de prevenção de
acidentes. Departamentos de saúde segurança e meio ambiente desenvolvem
regulamentos e fiscalizam a sua aplicação. As informações são insistentemente
transmitidas a todos os funcionários. Estes são incentivados a multiplicar essa
cultura e a questionar a execução de trabalhos quando percebem que são
inseguros.
Não importa
o motivo para tanta preocupação. Talvez para não perder produtividade, talvez
para que essas empresas possam participar de fundos de investimentos mundiais
cujos requisitos sejam a segurança ou talvez para evitar as multas aplicadas
pelo ministério do trabalho. O que importa é que para as empresas sérias isso
funciona. Por isso elas exibem em suas unidades, logo na entrada, uma placa
informando a quantidade de dias trabalhados sem acidentes com afastamento.
Por
outro lado os atos de violência em nosso país são tratados de forma bem menos
organizada. Poderíamos chamar de assassinatos com afastamento. Eles ocorrem com
tanta frequência que falta espaço no noticiário diário para reportar tanta
tragédia. Existem até programas de TV específicos para noticiar as barbáries. E
na maioria das vezes assistimos passivos a tudo isso. Sem mudar em nada o curso
normal de nossas vidas. A menos que aconteça com alguém próximo a nós.
A
nossa placa de acidentes, ou melhor, de assassinatos com afastamento nunca saiu
do zero. Ela é zerada todos os dias. As empresas já passaram por momentos assim
no início da industrialização, onde as condições de trabalho eram piores e os
acidentes mais tolerados. Comparando com países como Canadá e Japão, onde a
taxa anual de homicídio por 100 mil habitantes é menor que 2, tenho a sensação
que eles evoluíram enquanto nós seguimos vivendo nas condições da revolução industrial.
Sem saber o que fazer para mudar esse quadro.
Como
acontece nas empresas, entendo que deveríamos ser impactados por cada crime
ocorrido na grande organização que fazemos parte e chamamos de país. Quem sabe
uma paralização geral no dia seguinte a cada ato violento ou um pronunciamento
do presidente? Não sei. Mas deveria ser algo que nos causasse um incômodo.
Assim seriamos forçados a trabalhar na solução da diminuição da violência no
nosso país.